segunda-feira, outubro 09, 2006

Nova Zelândia e Austrália: visões estratégicas

Os destinos da Nova Zelândia quase sempre foram confundidos com os da Austrália. Contudo, a evolução geopolítica neozelandesa foi diferente em relação a seu grande vizinho, talvez desde o momento em que recusou a se associar à Comunidade de Estados que deu origem à Austrália em 1901.Embora tenha participado ativamente das duas guerras mundiais ao lado da Grã-Bretanha e, durante a Guerra Fria ter se associado aos EUA e Austrália num pacto político-militar, conhecido pela sigla ANZUS (Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos), que objetivava impedir a expansão do socialismo na região da Oceania, os neozelandeses têm idéias próprias sobre o papel que deve ser desempenhado pelo país no contexto político regional.Assim, a Nova Zelândia pretende se transformar num importante interlocutor junto ao mundo polinésio em virtude não só de sua proximidade geográfica mas também dos laços existentes entre a cultura maori (as populações autóctones do país) e a de seus vizinhos. Nessa perspectiva, a Nova Zelândia se defronta com os obstáculos, representados pelos EUA e pela França.Em relação aos EUA existem algumas ilhas cuja soberania os neozelandeses contestam. Além disso, a Nova Zelândia por vários anos impediu a utilização de seus portos por navios norte-americanos que carregassem armas nucleares. Com a França, as divergências são mais profundas e, se referem essencialmente à oposição ferrenha da Nova Zelândia aos testes nucleares realizados pela França no atol de Mururoa, na Polinésia francesa. Sendo um país de reduzida dimensão territorial, com pequeno efetivo populacional e com uma localização geográfica excêntrica, as ambições geopolíticas neozelandesas estão dirigidas para sua presença na vizinha Antártida.No que se refere à Austrália, as percepções geopolíticas em relação às ameaças que pairavam sobre o país modificaram-se bastante em pouco mais de um século. Assim, de 1890 a 1914, as preocupações geopolíticas da Austrália estavam ligadas à expansão naval alemã e o império colonial que os germânicos tentavam consolidar ao norte do território australiano. De certa forma, foi essa ameaça que acelerou, em 1901, a formação da Comunidade dos Estados Australianos.Após o final da Primeira Guerra, a ameaça maior passou a ser o expansionismo do Japão e sua política imperialista que já vinha sendo desenvolvida desde a segunda metade do século XIX, mas que se acelerou no período entre as duas guerras mundiais. Durante a Segunda Guerra , os japoneses se aproximaram perigosamente da Austrália, chegando a ocupar a vizinha ilha da Nova Guiné e efetuando alguns ataques aéreos ao norte do território australiano. A derrota nipônica em 1945 fez essa ameaça desaparecer.Com o advento da Guerra Fria, a nova ameaça passou a ser a progressiva expansão de regimes comunistas em vários países asiáticos, mais ou menos próximos à Austrália, como os da China, Coréia do Norte e do antigo Vietnã do Norte. Em face dessa ameaça a Austrália, que em outras épocas sempre esteve alinhada à Grã-Bretanha, alargou essa aliança incorporando-se aos esquemas políticos-militares capitaneados pelos EUA. É dentro deste contexto que se deve entender a participação da Austrália, juntamente com a Nova Zelândia no pacto ANZUS, que entrou em vigor no início dos anos 50. Durante as décadas de 1960 e 1970, a Austrália apoiou a intervenção norte-americana no Vietnã, enviando inclusive para o conflito um contingente simbólico de soldados.Na atualidade, a Austrália tem reavaliado seu papel no contexto regional especialmente em função do estreitamento dos laços econômicos com os países do leste e sudeste asiáticos, abrindo uma nova perspectiva em suas relações internacionais. Comprovando essa nova estratégia, a Austrália tem como alguns de seus mais importantes parceiros comerciais o Japão, a Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e China.

Fonte: http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=143&ed=4

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